sexta-feira, 27 de maio de 2016

MORADIAS EM CENTROS HISTÓRICOS: ANÁLISE DO MERCADO DE ALUGUÉIS RESIDENCIAIS NO CENTRO HISTÓRICO DE BELÉM – PARÁ – BRASIL

O centro comercial tradicional de Belém surgiu e se desenvolveu em torno do porto com implantação dos principais estabelecimentos comerciais, administrativos, religiosos e de residências das camadas mais abastadas da sociedade. Para o centro convergiam as principais vias e meios de transportes coletivos, tornando-se a centralidade urbana de maior acessibilidade, além de espaço de grande valor econômico, simbólico e arquitetônico. A partir de 1970, com o crescimento populacional e da malha urbana, o centro passou a enfrentar problemas de congestionamentos e degradação do patrimônio arquitetônico e urbanístico, provocados pelo uso do automóvel; deslocamento das moradias de alta renda para outras áreas; descentralização das atividades (privadas e públicas); demandas de novas tipologias de espaços comerciais, etc. Ao longo do tempo, o Centro Histórico de Belém (CHB) acumulou importante patrimônio histórico, artístico e cultural resultando no seu tombamento pelo Município, Estado e União e na realização de obras de requalificação arquitetônica e urbanística, mediante a inserção de atividades voltadas ao turismo e lazer. O presente trabalho objetiva identificar o perfil socioeconômico da população que alugou imóveis residenciais no CHB, nos últimos cinco anos, e apontar os principais motivos que fizeram as pessoas escolher morar no CHB, mesmo que nenhuma política pública relevante de incentivo à moradia foi implantada no CHB neste período. Para isso, foram levantados dados do Censo Demográfico do IBGE (2000/2010) e sistematizados dados do banco de dados da pesquisa Mercado Imobiliário em Centros Históricos das Cidades Brasileiras (MICH) – Belém. Os levantamentos evidenciaram que a população residente no CHB aumentou apenas 7,5% no período 2000-2010 (de 10.067 para 10.817 habitantes), mas o número de domicílios incrementou bem mais: 23,5% (de 2.630 para 3.249), sendo que os domicílios próprios elevaram-se em 249 unidades (de 1.680 para 1.929) e os alugados em 357 unidades (de 820 para 1.177). Quanto ao perfil dos inquilinos, 65.2% têm renda familiar de até 6 salários mínimos, 45.7% trabalham como autônomo, 71.8% têm no máximo escolaridade média e 70.22% utilizam, mesmo que esporadicamente, meio motorizado individual de deslocamento. Os principais aspectos citados pelos inquilinos como motivadores a escolher morar no CHB foram as proximidades: de atividades de comércio e serviços (44.8%); do local de emprego (44.8%); e, das residências de parentes ou amigos (44.8%). Com a crise de mobilidade urbana é explicável que os tempos e custos de deslocamentos pesem na decisão dos moradores, pois 42.6% dos inquilinos trabalham no próprio CHB, 80% realizam suas compras cotidianas na área central e 55.3% buscam lazer no interior do próprio CHB. A pesquisa permite inferir que é possível pensar políticas voltadas à reconversão de imóveis vazios e/ou subutilizados do CHB para o uso habitacional, especialmente pela via do aluguel, contemplando segmentos de renda média e baixa da população que trabalha e demanda os bens e serviços ofertados no CHB. As vantagens da centralidade da área são os fatores que mais motivaram as pessoas a escolher morar no CHB, podendo ser exploradas para atrair novos moradores e, por esta via, reverter o processo de degradação física do CHB.

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